domingo, 3 de janeiro de 2010

Pai nosso


Nosso Senhor não deseja que nos esqueçamos de nossas necessidades, e nos ensina o que devemos pedir para nós.

Se podemos fazer a vontade de Deus como os anjos do Céu, não podemos passar, como eles, sem o pão material. Por isso também devemos dizer a Deus: O pão nosso de cada dia nos dai hoje.

Nosso pão, não o dos anjos, que não nos bastaria; não também o dos outros, que não podemos roubar sem injustiça; não o dos animais, que seria muito grosseiro para nós, que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus.

Não nos dês somente o pão do qual nosso corpo tem necessidade todos os dias, mas dai também o pão sobrenatural às nossas almas.


Esse pão é a palavra de Deus, é a graça, é a Eucaristia. [...]

O pão nosso de cada dia nos dai hoje, porque todos os dias temos necessidade de Vós para a alma e para o corpo, e a palavra pão significa tudo o que é necessário a uma e ao outro.

Perdoai as nossas ofensas. Até aqui temos pedido a Deus bens para Si e para nós. Agora Nosso Senhor nos ensina a pedir que sejamos livres dos males. O maior de todos é o pecado, é a ofensa a Deus. Ninguém é inocente nessa matéria, porque o justo peca sete vezes.

Senhor! Perdoai as dívidas contraídas contra vossa justiça por nossas faltas, dívidas que nos tornaram passíveis de suplícios eternos.

Perdoai as nossas ofensas assim como perdoamos aos que nos têm ofendido. Vós dissestes, Senhor, que se nós perdoássemos, nosso Pai celeste nos perdoaria.

O perdão das injúrias é, pois, a condição necessária para obter vossa misericórdia; queremos preencher essa condição.

É por isso que solicitamos com confiança vossa graça. Felizes os que podem dizer isso a Deus com sinceridade e franqueza! Mas infelizes aqueles que, pronunciando essas palavras, guardam em seus corações o rancor e a vingança! Que, antes de pronunciar tal prece, pensando na necessidade premente que eles têm de perdão, não hesitem em procurá-los, perdoando aos seus inimigos. [...]

Não nos deixeis cair em tentação. Deus não tenta ninguém, mas permite que sejamos tentados pelo demônio, pelo mundo e por nossas próprias más inclinações. Que infelicidade para nós, se chegarmos a sucumbir! É por isso que pedimos para sermos preservados da queda, porque sem o socorro de Deus seríamos impotentes. Peçamos mesmo a Deus que afaste de nós as tentações.

Alguns santos, é verdade, devido à sua grande confiança em Deus, pediram tentações, a fim de nelas encontrar um meio de aumentar seus méritos.

No entanto, é ordinariamente mais seguro fugir das tentações, ou afastá-las pela oração. Quando elas duram, apesar de nós as rejeitarmos, não devemos nos atemorizar nem nos desencorajar, mas combatê-las, recorrendo a Deus com confiança.

Mas livrai-nos do mal. O mal do qual pedimos para sermos libertados é o pecado, que pode seguir-se à tentação; é também o demônio que nos leva ao que é culpável. Em um sentido completo, o mal é tudo o que pode nos conduzir ao pecado e nos fazer parar no caminho da virtude.

Quando dissermos isso a Deus, de todo nosso coração, não nos restará mais nada a pedir. Aquele que obteve, pela prece, a proteção de Deus, pode estar seguro. Que poderia temer do mundo aquele que Deus defende nesse mundo?

Santo Agostinho, no entanto, pensa que, mediante essas palavras, pedimos para sermos livres de todo mal pela bem-aventurança eterna. Lá não há mais ofensas, tentações, paixões para nos arrastar. Desejemos todos o Céu, onde nos será impossível ofender a Deus.

Amém. Por essas palavras “assim seja”, aprovamos e renovamos mais uma vez todos os pedidos precedentes, pedindo a Deus que os aceite e os ouça.

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